Maratona de Berlim 2013

Maratona de Berlim 2013

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Treino das pontes

Fim de semana com a família em Juiz de Fora, ainda que esteja em período de descanso, é oportunidade única de correr em outro lugar, ter outra visão sobre a corrida, enfim, crescer um pouco mais.

Acabei indo correr na beira do rio que cruza a cidade, com ideia de tirar fotos e fazer um trotezinho leve. Logo me interessei pelas pontes que cruzavam aquele rio. Resolvi parar para fotografá-las.

1ª ponte
A primeira surgiu escondinha, quase que não querendo ser achada. Devagar, com um passo depois do outro, entretanto, encontrei-a. Chamei-a baixinho, que ela não queria ser incomodada, "travessia", ainda que esse fosse um nome muito óbvio para uma ponte. Não sei porque ela me lembrou um tempo que ficou para trás, quase 20 anos, em que comecei a namorar meu amor, que então morava nessa cidade. Travessia ficou bom. Fez pensar em tudo que atravessei em todo esse tempo. Acho que ela nem me viu passar.
2ª ponte
Corri um pouco mais e cheguei a 2ª ponte. Essa chamei "Universidade", porque ela me lembrava uma ponte, na verdade um viaduto, que foi construído na época em que estudava. É lembrança de uma época boa, como todas que ficaram no passado e passado é (quase) sempre bom. Essa me viu e me chamou pelo nome. Fiquei me perguntando de onde me conhecia. A única coisa que me veio na cabeça era que talvez aquela que ficou no meu passado tenha contado a essa que me conhecia, já que, pela semelhança, elas certamente tinham algum parentesco. Gostei de pensar assim. Tinha que ser isso.

Seguia. Como na vida, não sabia onde pararia ou o que encontraria pela frente. Apenas seguia. Diferente da vida, no entanto, aqui a escolha do caminho era fácil: bastava seguir o rio. Que bom seria se houvesse um rio nos dando rumo na vida. Aliás, melhor não, que assim não teria a mínima graça. Prefiro o caminho sem trilhas ou rios.

3ª ponte
 Passava então pela 3a. ponte. Achei por bem chamá-la "Mínima", que essa não nascera para propósitos grandiosos ou grandes fluxos de veículos ou de pessoas. Apenas cumpria sua função ligando uma comunidade pequena, do lado de lá, a outra maior, do lado de cá. Ainda que sendo mínima, não se enxergava assim, posto que, para ela, seu propósito era grandioso, uma vez que não conhecia a natureza das outras pontes maiores que ela em significância e importância. Dei assim um "bom dia" a ela, que me respondeu de alto e bom som. Era, assim, uma pontezinha pequenina, mas orgulhosa de sua natureza de ponte.
 
O rio, alheio ao que se passava na sua margem, seguia seu caminho, que rio não se importa com nada nem ninguém, apenas segue. Eu é que me admirava com ele, que, sem se preocupar com nada nem ninguém, era feliz tendo visto nascer e crescer uma cidade.

4ª ponte
Chegava então a 4ª ponte, na verdade duas que chamei "Cosme e Damião", posto que eram irmãs. Uma dava passagem aos trens, outra, às pessoas. Achei essas charmosas demais, já que trem é sempre algo nostálgico. Deve ser porque lembra passado, filme antigo, vintage... por mais que possa ser moderno, um passeio de trem sempre terá o charme de uma viagem ao que já foi um dia, ainda que nunca tenha sido de fato.

Seguia com meus passos constantes, Passava, a essa hora, pelo alto, em viaduto por cima da linha férrea.

5ª ponte quando era algo distante
5ª ponte mais perto
A 5ª ponte demorou para ser vista. Fiz uma curva e comecei a enxergá-la ao longe. Aos poucos, o que estava longe se aproximava. Como gosto de correr e desbravar lugares! A região não era das mais favorecidas, o que não me importava muito. Chamei essa última ponte de "Retorno". Decidi, entretanto, seguir um pouco mais, o que fez o nome dela um tanto inapropriado, e ela reclamou baixinho. Pedi desculpas, mas disse que voltaria logo em seguida e que, mais importante, seu nome tinha muitos significados para mim. Representava o momento em que, ainda que tenha tido seu ápice na semana anterior, eu ainda me considerava em relação às corridas. Mais importante, retorno é algo que todos desejamos e que muito queremos. Não importa quão longo o caminho, sempre queremos voltar para casa. (e, se não queremos, ou é porque ainda não chegou a hora ou porque aquela casa nunca foi nossa mesmo). Ela gostou da explicação ou, pelo menos, assim o fez entender, que nunca se sabe o que pensa uma ponte.

Fiz uma curva, não vi mais o rio. Decidiu seguir sozinho, já que não se importava com minha companhia mesmo. O GPS marcava 4,5k, resolvi que era hora de voltar, que a família me esperava. Na volta, quis encurtar, errei o caminho. Acho que o rio não gostou do meu atrevimento e me expulsou de perto dele. Talvez ele estivesse só fingindo que não se preocupava comigo. Nunca vou saber. Perguntei a alguém onde estava, achei outro caminho., passei por outras paragens. Conheci mais, do mundo e de mim mesmo. Minhas pernas seguiam, uma na frente da outra, em passo contínuo, uma vez que hoje elas não eram o foco, só um meio de explorar a vida um pouco mais.

Praça da Antiga Estação
Rua Halfeld
Paço Municipal
Passei por belos lugares, como que pedindo licença de correr por tanta beleza. Finalmente cheguei onde havia começado. Trouxe na camisa o suor do esforço e no coração um pouco dessa bela cidade chamada Juiz de Fora.

6 comentários:

  1. Que belo passeio Sergio.
    Tão gostoso quanto cuidar da saúde é viver essas experiâncias bacanas.
    Parabéns pelo passeio!

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  2. deu vontade de correr por aí... ainda vou conhecer Juiz de Fora...

    esse treino, que viagem!
    levado pelo rio, pelas pontes, você nos apresentou uma cidade linda, bucólica!

    gostei, viu!

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    1. Obrigado, Elis! saudade dos nossos treinos... Eu me dei 2 semanas de folga das corridas, mas estou fazendo cross training. É que depois tenho um programa de 16 semanas voltado para a meia para buscar uma performance melhor.
      Saudade dos nossos longões!
      Juiz de Fora é encantadora. Gosto muito e recomendo!
      bjs
      Sergio

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  3. Meu caro Sérgio, seu treino é um presente para os que gostam de Juiz de Fora, categoria na qual me incluo. Para meu orgulho nasci nessa terra embora morasse ainda em outra chegando para ali viver somente 5 anos depois. JF está no coração. Por ironia somente corri nessa terra uma vez e não deu para sentir poesia pois era minha 3ª meia maratona e ainda sofria muito com a distância. O sábado pela manhã na rua Halfeld e as noites no Braseiro estão para sempre na memória de uma época em que eu observava quem corria com absoluta estranheza. Por isso a vida é interessante, sua dinâmica faz rir. Abraço do amigo juizforano Miguel Delgado.

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    1. Grande Miguel,
      Gosto muito de Juiz de Fora. Foi ali que praticamente comecei meu namoro com minha esposa, e tenho ótimas recordações desse tempo, embora na época também não corresse.
      É engraçado como a vida dá voltas, não é?!
      grande abraço,
      obrigado pelo comentário,
      Sergio

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Tenho um enorme carinho pelos que comentam por aqui e procuro responder a 100% dos comentários, aqui na própria seção. Vamos lá, diga aí embaixo o que achou ou qualquer coisa relacionada às corridas...