![]() |
Vista do vão central |
Corria pelo vão central, já na descida. De repente, olho para o mar, não para o lado, um pouco mais para trás, buscando o sol. A vista é linda demais. A baía, os barcos, o sol ainda próximo ao horizonte, refletindo fortemente no mar e transformando aqueles navios em pequenas silhuetas. Sinto aquela comunhão com a vida que tenho encontrado na corrida. Tenho certeza. Tomei uma das decisões mais certas de minha vida vindo fazer essa prova.
Amigos, escrevo ainda tomado pela emoção de ter cruzado aquela ponte correndo. Foi bom demais! Agradeço à Abril, na figura do Sergio Xavier, por ter me dado o convite para essa prova. Até a sexta-feira, eu achava que não faria essa prova já que, devido à um problema de coluna, havia estado no estaleiro por muito tempo. Meu maior treino havia sido no domingo anterior, de 14k.
O dia começou com uma noite mal dormida, como é normal na véspera das provas, já que a ansiedade era grande. Nada demais.
Às 6:30h da manhã, entrávamos, eu e meu amigo Guilherme na barca em direção à Niterói. Estava totalmente lotada de corredores, em um clima muito bacana de alegria no rosto de cada um. O sol nascia à frente, em uma visão de tirar o fôlego. Embora ele faça isso diariamente, hoje, para mim, era diferente. Aqui esse (re)nascimento representava muito. Era eu que, após meses de dúvidas, renascia ali como corredor também.
![]() |
a barca |
![]() |
a ponte, vista da barca |
Na saída da ponte encontro o amigo virtual que virou real Nishi, de São Paulo, que veio apenas para a corrida. Sujeito gente finíssima, de bem com a vida. Por que eu praticamente só encontro gente assim entre os corredores amadores? fica uma daquelas indagações tostines: o sujeito é gente boa porque corre, ou fica gente boa depois que começa a correr? impossível responder.
![]() |
eu e Nishi |
![]() |
eu e Guilherme |
Correria, pela primeira vez, a meia-maratona sozinho. É assim mesmo. A corrida, afinal, é um esporte solitário durante sua execução!
Sigo meu planejamento, que é de correr tranquilo, com ritmo em torno de 6'40"/k até o 16k e depois reavaliar. A hidratação é muito bem feita. Gostei do gatorade em saquinho, que podia ter sido repetido no posto seguinte, onde foi dado em copo aberto. Boa novidade!
O dia era absolutamente lindo, mas com um sol de outono que era bem suportável. De qualquer jeito, aproveitava cada posto de hidratação para jogar um copo de água na cabeça e dar uma resfriada no radiador.
O sol vinha por detrás, à direita. A partir da primeira vez que olhei para lá, ficou difícil não dar uma espiadinha de vez em quando, tão grande era a beleza! Não resisti e dei uma paradinha para tirar uma foto, a que abre o post!
Logo após o vão central, uma ligação. Era a notícia que queria, a família estaria me aguardando na chegada! Sinto uma alegria, uma vontade de chegar e encontrar a todos... seria uma motivação a mais no restante da prova.
Aos poucos formamos meio que um pelotão. Encontro um cidadão nordestino e conversamos um pouco. Ele vai dando força a todo mundo que vai ficando para trás. Diz que bebia e fumava, mas que agora tem uma nova vida. Passamos por uma menina que corre com dificuldade, ele diz para ela se motivar que ela já é uma vencedora! Fato!
Terminamos a ponte e entramos na temida perimetral. Ali, um ano antes, o calor era muito grande e muita gente passaria mal. Dosei a energia e a enfrentei bem. Até ali eu era feliz correndo. Não conseguia sequer achar feio. Via o mar à esquerda e o berço do RJ à direita, a essa altura cheia de obras. Ainda que as pernas já não fossem as mesmas.
![]() |
A ponte, vista da perimetral. Não sei se foi o calor, ou eu que já estava meio alterado, mas ficou um efeito interessante he he |
Encontro o Lucena, colunista da Folha e blogueiro. Digo que sou seu fã. Trocamos umas palavras. Sigo.
![]() |
Lucena, na perimetral |
De repente, a chegada vai se aproximando. Minhas pernas, ainda que doloridas, ficam repentinamente mais leves. Gosto muito! Meu filho mais velho se aproxima, corremos juntos os últimos 50 metros. Cruzamos a linha de chegada de mãos dadas! o tempo, então, era o menos importante. A prova, ainda que feita de forma lenta, encaixou. Fiz os 21,4k em 2 horas e 26 minutos, sem caminhar em nenhum momento, e chegando inteiro. Era isso que tinha para hoje!
A corrida, com já descobri há tempos, é uma metáfora perfeita da vida. Há dias bons e dias ruins. Tudo é uma questão de ver o copo meio cheio, nunca meio vazio. Eu estava ali, havia feito a prova mais de 20 minutos mais lentamente que minha 2ª pior meia-maratona, mas estava absolutamente feliz!
Só para deixar registrado, achei a organização da prova excelente. Tudo impecável! Destaque especial para a largada em ondas. Para não dizer que foi tudo perfeito, a água do posto de hidratação do 17k acabou. Mas isso é um detalhe menor que não invalida todo o restante. O corredor foi tratado com carinho.
Existem acontecimentos na vida que são tão especiais que temos certeza que não se apagarão nunca da nossa memória. Aquela olhadinha para o sol na ponte e a chegada triunfal com a família estão certamente entre esses momentos!
* Links para essa postagem:
No Blog Pulso, do Globo: http://oglobo.globo.com/blogs/pulso/posts/2012/05/21/corrida-da-ponte-relato-de-sergio-melo-446334.asp
No Blog Correria, da Abril: http://runnersworld.abril.com.br/blogs/correria/sol-testemunha-321833_p.shtml