Maratona de Berlim 2013

Maratona de Berlim 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Maratona de Berlim (Resumo final)


Retirado do site da Maratona. O Dr. ali no nome foi um erro deles he he.

Fui muito feliz no processo de preparação, bem como na Maratona de Berlim!

Completar uma maratona era um sonho de criança que pude realizar. Isso é fato. Nada que eu leia ou ouça vai mudar isso. Assim, o evento teve grande importância na minha vida.

Outro ponto a destacar é que, devido às circunstâncias (contusão), foi necessário me superar para adotar uma estratégia que não era o que gostaria de fazer (run/walk). Foi difícil me manter fiel a ela, tanto durante alguns treinos quanto, mais ainda, na corrida. As parciais da prova, que colei na figura acima mostram o acerto da estratégia. Consegui fazer uma prova bem consistente e, as dores após a prova mostram que fui no limite do que dava para aquele dia. Levo essa perseverança para a vida, já que viver é a arte de fazer o possível, ainda que, muitas vezes, longe do ideal que gostaríamos.

O fato de escolher para a estreia uma corrida fora do país também foi muito bom. Em primeiro lugar, tinha muita curiosidade de correr uma major. Minha conclusão foi de que a organização é realmente, impecável e o povo alemão deu mostra de saber fazer realmente algo organizado.  Depois, para a estreia, acho que foi importante ter escolhido uma prova plana e com temperatura ideal. Não imaginava, entretanto, que as condições seriam tão perfeitas. Não sei se vou conseguir fazer na vida uma prova tão plana e com temperatura e umidade tão boas. Tinha medo de ficar com frio, mas agora já sei que a temperatura em torno de 10º é ideal!

Outra constatação é que é muito bom fazer uma prova realmente com apoio popular, acrescenta bastante na motivação, embora correr seja naturalmente motivante para mim.

Minha esposa também me apoiou durante a preparação, bem como durante a prova. Sei que a preparação para uma prova como essas é difícil e muitas vezes tive que realizar longos treinos. Coube a ela segurar a barra. Ainda por cima esteve em 3 locais durante a prova tentando me encontrar. Por algum motivo acabamos nos encontrando apenas em um. A união do casal é mais um bom resultado que carrego de todo o proceso.

Por último revisitei as dicas que havia recebido dos amigos corredores antes da prova. Consegui cumprir as 3: não exagerei no começo da prova, controlei bem a alimentação e hidratação e me diverti muito! acho que está bom para a primeira vez!

Ainda tenho muitos desafios na minha vida de corredor amador, isso foi só o começo de uma nova etapa. Ainda quero fazer uma maratona inteira sem andar, por exemplo. Também não sei se quero continuar treinando para maratona, provas menores, ou mesmo se parto para outros vôos (provas de montanha etc). Tudo será avaliado com calma.

Por último quero deixar registrados os agradecimentos a todos que passaram aqui pelo blog, bem como aqueles que me apoiaram ainda que sem passar por aqui.

Não sou uma pessoa diferente por causa da maratona. Não me tornei um super-homem ou algo do gênero. Creio, entretanto, ter me tornado um ser humano um pouco melhor, pois algumas experiências, como esta, tem essa capacidade de nos moldar.

Já iniciei nova fase nos treinos. Devagar. Um passo depois do outro. Assim, mais ou menos, como se segue na vida ;-)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Maratona de Berlim (3ª parte)

A prova acontecia em um cenário bonito demais, mas eu, conhecendo pouco a cidade (há apenas 3 dias), não conseguia identificar, na maior parte do tempo, por onde estava passando.

Uma coisa muito legal eram as bandas no caminho. Pelo que sei foram bem mais de 40. Tinha desde o baterista solitário até uma banda de samba brasileiro. Muitas davam um verdadeiro show e eu cheguei a passar aplaudindo uma ou outra. Pode parecer besteira, mas isso ajuda. A prova fica menos monótona e mais leve.

Outro ponto que funcionou com perfeição foi a sensação térmica, com o colete tipo segunda pele que comprei na feira da maratona e coloquei por baixo da camisa de prova. Estava receoso, porque nunca havia treinado com ele, mas também nunca havia treinado com aquele frio, então alguma coisa teria que ser a primeira vez. Tinha decidido que, se tivesse problema, aproveitaria uma das caminhadas para retirá-lo. Na verdade, no entanto, foi simplesmente perfeito. Agora já sei, para prova entre 5º e 10º ele é o ideal. Pena que agora ele vai ganhar poeira na gaveta porque esse tempo aqui no RJ não faz nunca he he.

Outro bom aspecto da prova foi a parte da alimentação e hidratação. Consumi 3 géis de carboidrato, 3 paçocas, além de pedaços de banana dados pela organização. Na hidratação, alternei água (com os géis) e isotônico (com as paçocas). Tive que me adaptar, pois os postos ficavam, em média, a cada 2,5 km, alternando água e isotônico, enquanto nos treinos me alimentava/hidratava em períodos diferentes, mas tudo deu certo.

Com tudo isso, e com o ritmo que imprimia, não posso dizer que tenha chegado ao falado muro que se comenta. Evidentemente a prova ia chegando ao final e o cansaço se acumulava, mas não sentia uma dificuldade tão grande para continuar. No quilômetro 35 encontrei minha esposa, que me deu muita força e um gás extra.

Quando senti que faltavam 8 ou 9 quilômetros, achei que dava para correr mais, e reduzi as caminhadas para 1 minuto a cada 10 ou 15 minutos. Cheguei a cogitar correr direto, mas tive medo de não chegar ao final. Quando deu 40 km, acelerei mais e percebi alguém correndo no mesmo ritmo. Era uma polonesa, chamada Marta, se não me engano. Combinamos de irmos juntos até o final, dando força um ao outro. Isso foi importante e permitiu que tenha acelerado ao final, fazendo os dois últimos quilômetros abaixo de 5'40", um ótimo ritmo para aquele momento. Cruzei a linha de chegada sorrindo e aliviado... (continua)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Maratona de Berlim (parte 0)

Peço desculpa a quem vinha lendo as partes anteriores. Aqui quebro a sequência. É que me lembrei de coisas que aconteceram antes da prova, e que queria deixar registradas. Também, quem disse que os pensamentos vem de forma tão linear? às vezes eles gritam dentro da gente e pedem para sair, assim, meio que sem uma sequência definida.
Preciso dizer que tudo começou, na verdade, na quinta-feira anterior, três dias antes, quando chegava a Berlim. Estava cheio de sonhos e planos. Por um lado sentia aquela ansiedade natural de quando se espera algo grande. De outro, tinha aquela vontade enorme de absorver toda aquela cultura, aquela realidade que passava ali na minha frente. Uma cultura diferente abre uma nova dimensão na nossa compreensão do ser humano. Já tinha ido à Alemanha quinze anos antes, de mochila nas costas e sozinho, mas agora o aprendizado seria outro, já que um rio não passa duas vezes no mesmo lugar...
Voltando, entretanto, às nossas reflexões, para absorver um pouco daquela cultura, precisava andar. E isso não combina bem com uma maratona. Consegui, mesmo assim, e com apoio da esposa, fazer um roteiro onde andei muito no 1o. dia, e fui reduzindo até a véspera da prova. Algumas coisas que descobri nesses dias:
1) que ninguém precisa controlar quem pagou o bilhete do metrô nem cada trem precisa de um maquinista;
2) que a salsicha não pode ser tão ruim pra saúde nem provocar câncer;
3) que ainda que se dividam pessoas por um muro, ninguém separa seu espirito;
4) que lembrar o passado é uma boa forma de evitar que os erros se repitam.
Agora alguns pontos mais práticos:
1) a feira da maratona é sensacional. Como me esqueci de levar um tênis além do que iria correr, comprei bem barato um Saucony Kinvara 2, bem como um Garmin 610, pois estão para lançar o 620. Na prova, entretanto, optei pelo velho 305, com o qual já havia me acostumado.
2) o clima estava bastante frio, com temperatura na faixa dos 10C, embora com dias lindos. Por isso, resolvi investir numa blusa térmica de manga comprida. Foi ótimo, pois coloquei por baixo da que usaria na prova e, com isso, mantive um conforto térmico durante toda a prova. Arrisquei, pois não havia testado isso em treinos, mas deu certo. A temperatura esteve, para mim, perfeita para correr.
3) é maravilhoso viver o clima pré-maratona de uma major. O hotel estava lotado de corredores;
4) a turma leva casaco velho para a largada e vai abandonando. Achei perigoso, pois vi muita gente  tropeçando e quase indo ao chão com eles.
Acho que era isso. No próximo continuo com a 2a. metade da prova.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Maratona de Berlim (2a. Parte)

Após aquele início fantástico, era hora de fazer a minha parte. Precisava mostrar a mim mesmo o que me levava a encarar pela 1a. vez os temidos por alguns e incompreendidos por muitos, 42 km. De inicio, o desafio era me manter fiel a estratégia para a qual havia me preparado, de ciclos onde correria por 4 minutos e caminharia por 1. Como tive que fazer uma preparação curta, devido a uma lesão, era isso que tinha para aquele dia.
Digo já que foi difícil começar a prova assim. Talvez não seja possível para quem não corre entender isso, mas é difícil andar quando se pode (e se quer) correr. Os 42 k, entretanto, punem. Assim, tinha que manter fiel à estratégia.
Só que se passaram os primeiros 4 minutos e não consegui parar para caminhar.
Poderia dizer que foi por causa do frio, que ficaria bem na fita. Em parte até foi, mas o motivo principal não foi esse. Tive vergonha mesmo. Resolvi na minha cabeça (e como diria o amigo Miguel maratona se corre com a cabeça) que aquele 1o. ciclo seria de aquecimento. Somente com 9 minutos caminharia pela 1a. vez. A parir daí, busquei ser quase que religioso na estratégia, só a modificando para realizar as alimentações e hidratações quando disponíveis, caminhando.
Um capitulo a parte eram as pessoas e bandas nas ruas, que animavam demais! Como é bom correr assim.
Tive apenas uma dificuldade, de logística. É que, como a prova tem muita gente, acaba-se, naturalmente, com o tempo, formando-se grandes grupos que correm na mesma velocidade. Como eu percorria 4 minutos em uma velocidade maior (6'/km) e 1 minuto bem lento, tinha dificuldade. É como se a cada ciclo tivesse que correr em zigue-zague, ultrapassando os mais lentos, para depois voltar a ser ultrapassado pelas mesmas pessoas no minuto em que caminhava. Mas dava para levar, não chegava a ser dramático.
Com isso, o tempo ia passando. Como o GPS andou falhando, além de ter corrido mais que o normal pelo motivo explicado, acabei completando a 1a. metade da prova uns 2minutos (uma besteirinha) mais lento do que gostaria, em 2 horas e 17 minutos. Mas, como já disse, era bom demais correr ali, com aquela gente, aquela torcida. Cada vez tinha mais certeza do acerto na escolha da prova e na preparação, no que eu pude controlar...

sábado, 5 de outubro de 2013

Maratona de Berlim (1a. Parte)

Há momentos na vida em que temos certeza de estarmos vivendo uma experiência da qual nunca esqueceremos. O dia 29 de setembro de 2013 foi um destes dias.
Estava em Berlim. Sentia frio, muito frio. Chegava ao local da largada com proteção mínima, por erro de principiante, que esqueceu de levar um casaco. O dia era lindo, e ainda faltava uma hora e trinta para a largada.
Tudo o que vivia provocava um mix de sensações, sentimentos e emoções. Procurava aproveitar ao máximo, absorvendo tudo que se passava comigo naqueles momentos. Estava ansioso e com um certo medo (por que não?) do desconhecido. Tinha certeza que sairia dali uma pessoa diferente, embora outros não percebessem. Sentia-me ao mesmo tempo pequeno, frente aos 42 km que me aguardavam, e grande, frente ao que já alcançara até ali. Sabia que o que poderia alcançar representaria pouco para muita gente, que sonhos são, ainda bem, pessoais e (quase sempre) intransferíveis. Para mim, entretanto, era muito. Quatro anos depois de começar a correr, dava ali meu maior passo.
Após deixar as ultimas coisas no guarda-volumes, dirigi-me para a largada. Ali, agora sem gorro, calça e luvas, achei que teria hipotermia. Neste momento, entretanto, a massa ajudou. Eram 40.000 pessoas transformadas em uma só energia, algo transcendental mesmo. O locutor entrevistava campeões do passado, as largadas das ondas iam acontecendo (pontuais) e meu turbilhão de emoções ia aumentando. Finalmente era dado o sinal da largada da minha onda, aquela de quem tinha tempo acima de 4:15h ou era 1a vez (meu caso). Era o lugar perfeito para largar, aquele ao qual eu pertencia.
Queria congelar na memória aquela largada, e poder voltar a ela toda vez que me sentisse pra baixo, assim, precisando daquele empurrãozinho. Neste dia, pela 1a. vez, eu largaria derramando algumas lagrimas furtivas.