Maratona de Berlim 2013

Maratona de Berlim 2013

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Corrida da Ponte: o melhor dia do resto de nossas vidas


Vista do vão central
 
Corria pelo vão central, já na descida. De repente, olho para o mar, não para o lado, um pouco mais para trás, buscando o sol. A vista é linda demais. A baía, os barcos, o sol ainda próximo ao horizonte, refletindo fortemente no mar e transformando aqueles navios em pequenas silhuetas. Sinto aquela comunhão com a vida que tenho encontrado na corrida. Tenho certeza. Tomei uma das decisões mais certas de minha vida vindo fazer essa prova.

Amigos, escrevo ainda tomado pela emoção de ter cruzado aquela ponte correndo. Foi bom demais! Agradeço à Abril, na figura do Sergio Xavier, por ter me dado o convite para essa prova. Até a sexta-feira, eu achava que não faria essa prova já que, devido à um problema de coluna, havia estado no estaleiro por muito tempo. Meu maior treino havia sido no domingo anterior, de 14k.

O dia começou com uma noite mal dormida, como é normal na véspera das provas, já que a ansiedade era grande. Nada demais.

Às 6:30h da manhã, entrávamos, eu e meu amigo Guilherme na barca em direção à Niterói. Estava totalmente lotada de corredores, em um clima muito bacana de alegria no rosto de cada um. O sol nascia à frente, em uma visão de tirar o fôlego. Embora ele faça isso diariamente, hoje, para mim, era diferente. Aqui esse (re)nascimento representava muito. Era eu que, após meses de dúvidas, renascia ali como corredor também.

a barca
 A ponte, a esse momento estava a nossa esquerda. Ainda que feita pelas mãos do homem, uma bela obra de engenharia, uma comprovação da nossa vocação para a beleza. Logo ela ainda ficaria mais bonita, com aquele tapete humano a atravessando.

a ponte, vista da barca


Na saída da ponte encontro o amigo virtual que virou real Nishi, de São Paulo, que veio apenas para a corrida. Sujeito gente finíssima, de bem com a vida. Por que eu praticamente só encontro gente assim entre os corredores amadores? fica uma daquelas indagações tostines: o sujeito é gente boa porque corre, ou fica gente boa depois que começa a correr? impossível responder.

eu e Nishi
eu e Guilherme

 Na hora de entrar no curral de largada, me despeço dos amigos. É que a largada seria em ondas, e eles largariam uma onda na minha frente. Percebo que o sistema funcionou. Minha largada se dá sem atropelos e com todo mundo mais ou menos no mesmo ritmo. Aprovado.

Correria, pela primeira vez, a meia-maratona sozinho. É assim mesmo. A corrida, afinal, é um esporte solitário durante sua execução!

Sigo meu planejamento, que é de correr tranquilo, com ritmo em torno de 6'40"/k até o 16k e depois reavaliar. A hidratação é muito bem feita. Gostei do gatorade em saquinho, que podia ter sido repetido no posto seguinte, onde foi dado em copo aberto. Boa novidade!

O dia era absolutamente lindo, mas com um sol de outono que era bem suportável. De qualquer jeito, aproveitava cada posto de hidratação para jogar um copo de água na cabeça e dar uma resfriada no radiador.

O sol vinha por detrás, à direita. A partir da primeira vez que olhei para lá, ficou difícil não dar uma espiadinha de vez em quando, tão grande era a beleza! Não resisti e dei uma paradinha para tirar uma foto, a que abre o post!

Logo após o vão central, uma ligação. Era a notícia que queria, a família estaria me aguardando na chegada! Sinto uma alegria, uma vontade de chegar e encontrar a todos... seria uma motivação a mais no restante da prova.

Aos poucos formamos meio que um pelotão. Encontro um cidadão nordestino e conversamos um pouco. Ele vai dando força a todo mundo que vai ficando para trás. Diz que bebia e fumava, mas que agora tem uma nova vida. Passamos por uma menina que corre com dificuldade, ele diz para ela se motivar que ela já é uma vencedora! Fato!

Terminamos a ponte e entramos na temida perimetral. Ali, um ano antes, o calor era muito grande e muita gente passaria mal. Dosei a energia e a enfrentei bem. Até ali eu era feliz correndo. Não conseguia sequer achar feio. Via o mar à esquerda e o berço do RJ à direita, a essa altura cheia de obras. Ainda que as pernas já não fossem as mesmas.

A ponte, vista da perimetral. Não sei se foi o calor, ou eu que já estava meio alterado, mas ficou um efeito interessante he he


Encontro o Lucena, colunista da Folha e blogueiro. Digo que sou seu fã. Trocamos umas palavras. Sigo.

Lucena, na perimetral


De repente, a chegada vai se aproximando. Minhas pernas, ainda que doloridas, ficam repentinamente mais leves. Gosto muito! Meu filho mais velho se aproxima, corremos juntos os últimos 50 metros. Cruzamos a linha de chegada de mãos dadas! o tempo, então, era o menos importante. A prova, ainda que feita de forma lenta, encaixou. Fiz os 21,4k em 2 horas e 26 minutos, sem caminhar em nenhum momento, e chegando inteiro. Era isso que tinha para hoje!


A corrida, com já descobri há tempos, é uma metáfora perfeita da vida. Há dias bons e dias ruins. Tudo é uma questão de ver o copo meio cheio, nunca meio vazio. Eu estava ali, havia feito a prova mais de 20 minutos mais lentamente que minha 2ª pior meia-maratona, mas estava absolutamente feliz!


Só para deixar registrado, achei a organização da prova excelente. Tudo impecável! Destaque especial para a largada em ondas. Para não dizer que foi tudo perfeito, a água do posto de hidratação do 17k acabou. Mas isso é um detalhe menor que não invalida todo o restante. O corredor foi tratado com carinho.

Existem acontecimentos na vida que são tão especiais que temos certeza que não se apagarão nunca da nossa memória. Aquela olhadinha para o sol na ponte e a chegada triunfal com a família estão certamente entre esses momentos!


* Links para essa postagem:
No Blog Pulso, do Globo: http://oglobo.globo.com/blogs/pulso/posts/2012/05/21/corrida-da-ponte-relato-de-sergio-melo-446334.asp
No Blog Correria, da Abril: http://runnersworld.abril.com.br/blogs/correria/sol-testemunha-321833_p.shtml

terça-feira, 8 de maio de 2012

Autoentrevista 2

Segunda versão da autoentrevista:


Sergio: Afinal, você está lesionado ou não?
Sergio: Não. Não tenho propriamente uma lesão. O que tenho, algo que já sabia há 8 anos, é a protusão de um disco lombar (L5). Não sei se isso também deve ser chamado de lesão, talvez sim, mas o que quero dizer é que não é uma lesão em músculo ou tendão dos que estamos acostumados.

Sergio:Ih, já vi que continua com a mania de não responder direito as perguntas, mas tudo bem. Outra pergunta,  não é perigoso correr assim?
Sergio:Sim e não. Muitos de nós que corremos temos problemas na coluna, inclusive mais sérios, como hérnias de disco. A protusão está um passo antes. Em teoria o impacto da corrida não é benéfica. Mas a corrida não é contra-indicada a esse grupo. Só tenho que tomar um pouco mais de cuidado.

Sergio:Quer dizer que você podia ter continuado correndo durante todo esse tempo que ficou quase parado? Viu? eu te disse isso... mala, homi-frouxo, sujeito sem coragem!
Sergio:Peço respeito ao entrevistado, ou eu encerro isso por aqui! humpf! Em teoria sim. Podia ter maneirado um pouco em alguns momentos, mas não precisava ter parado.

Sergio:Por que então você parou?
Sergio:O problema é que tudo levava a crer que eu tinha uma contusão que poderia piorar... a dor era em um lugar específico, atrás da coxa e próximo ao joelho, e não me pareceu proveniente do ciático. De início o próprio médico achou que fosse uma tendinite. Se fosse isso realmente, o treinamento poderia prejudicar.

Sergio:Você mencionou "Tomar um pouco mais de cuidado". O que você quis dizer com isso?
Sergio:Normalmente já devemos aumentar a distância e velocidade dos treinos aos poucos e ficar atento às dores, sinais do organismo que algo não está bem. Mas no caso de quem já tem um problema crônico, como eu, essas regras devem ser seguidas à risca!

Sergio:Como você tem certeza de que não há uma tendinite ou outra contusão no local?
Sergio:Alguns fortes indícios. Fiz ultrassonografia e ressonância da perna e coluna, que nada detectaram além da protusão do disco. Além disso, com toda a fisioterapia e fortalecimento que fiz e pelo grau da dor, que sempre foi fraca, já teria melhorado alguma coisa. Como disse o Pai Santana e o osteopata, é coluna!

Sergio:Mas como está a dor no dia a dia?
Sergio:Vareia muito. Reparei que piora ao longo do dia, principalmente se ficar sentado. Dirigir por longa distância, como é o caso de Muriaé para o RJ (4h30') é doloroso. Mas no dia seguinte fiquei zerado. Ainda estou aprendendo. É direto no nervo, não nos músculos ou tendões, como é mais comum então é um bicho diferente do que estava acostumado.

Sergio:Mas você irá sempre sentir dor? você está na idade do condor?
Sergio:he he Esse ano entro nos "enta", mas espero sinceramente que a dor eventualmente passe. Mas vou vivendo um dia de cada vez.

Sergio:E você faz algum tratamento ou acha que a melhora virá do céu?
Sergio:No momento estou me tratando com um osteopata, indicado pelo Xampa, bem como fazendo minha massagem semanal com o Pai Santana. Tenho esperança que isso termine com a dor. Minha ideia é manter a massagem semanal no futuro.

Sergio:E se a dor não passar nunca? você se desespera com isso?
Sergio:definitivamente não. Seria até leviano de minha parte reclamar de alguma coisa na minha vida. Com a idade aprendi muito e melhorei muito minha forma de encarar o mundo, e aprendo mais a cada dia. Tenho uma vida feliz demais e o problema que tenho é muito pequeno perto da grandiosidade que é viver. É só olhar para o lado, tem tanta gente com problemas realmente sérios...

Sergio:E os treinos, como estão?
Sergio:Evoluindo. Estou, aos poucos, aumentando as cargas, em um gradiente menor do que se estivesse totalmente 100%.

Sergio:Mas dói durante os treinos?
Sergio:Não é que eu sinta dor. É mais a perna direita um pouco presa. Como agora já sei o que é, não tem me abalado.

Sergio:E quais os planos para as provas?
Sergio:Tenho muita vontade de participar da Meia Maratona da Caixa novamente, em julho. Teoricamente deve dar, pois no último longão fiz bem um treino de 12k com altimetria mais pesada. Depois dessa prova, verei o que mais vem pela frente. Importante é não antecipar nada.

Sergio:O que você sente que piorou mais com esse tempo parado?
Sergio:definitivamente a velocidade. Estou cerca de 1 minuto por quilômetro mais lento, o que é muito. O problema é que, além de ter parado, recuperei 6 dos 11 quilos que havia perdido.

Sergio:Gordo! e você faz alguma coisa para melhorar isso?
Sergio:Gordo é você! Estou novamente vigiando o peso, mas sem os vigilantes he he. Prometi que ficarei um ano sem comer doce, o que já faz 1 semana. Tem sido difícil, pois o início é assim mesmo, mas está funcionando.


Sergio:Aproveitando a entrevista, tem algo a dizer sobre o que é "ser baleias"?
Sergio:ainda agora me emociono ao pensar nisso. Não vejo a turma desde dezembro, na Volta da Pampulha. Sinto saudades. Ser baleias é uma forma de encarar a vida olhando o copo meio cheio. Foi uma grande honraria para mim entrar para esse grupo e estou ansioso por encontrar a todos na Maratona do RJ.

Sergio:E esse blog, agora você está em uma onda meio poética, quando é que vai acabar essa boiolice?
Sergio:peço que não use palavras de baixo calão, pois esse é um blog família! Eu escrevo aqui o que quiser. Estou em uma fase romântica com a corrida, voltando, então esse agora sou eu. Não tenho planos para o futuro.

Sergio:Já que você está nessa onda poética, pretende abolir de vez o relógio dos seus treinos? parar de se preocupar com a performance?
Sergio:Provavelmente não. Ainda que o mais importante não esteja nos números, preciso deles para me motivar a acordar cedo para treinar. Gosto de me desafiar a melhorar cada dia. Para mim é divertido. Só não é para agora, que o foco é outro. Importante é entender isso e deixar a preocupação com o tempo mais para frente.

Sergio:Você está próximo de dois anos de blog, pode fazer um balanço?
Sergio:Evolui muito. Cresci. Mas o mais legal do blog foi conhecer tanta gente bacana, que não vou citar nomes para não correr o risco de esquecer alguém. Além disso funciona muito como ferramenta para trocar ideias e registrar minha evolução. O tratamento com o osteopata, por exemplo, devo completamente à existência do blog e ao Xampa, que sempre procura dar uma dica.

Sergio:E a família, como está se comportando em relação a suas corridas?
Sergio:Muito bem. Acho que é um ótimo exemplo para meus filhos que, espero, vejam o benefício da atividade física em suas vidas. Minha esposa já está vendo de uma forma bem mais positiva e até já comprou um tênis de corrida para ela. Estou "doido" para que ela volte he he. Não dá para negar que a compreensão fica maior se ela também estiver nessa onda.

Sergio:E a maratona? afinou?
Sergio:que é isso, rapaz?! Você é realmente muito abusado como entrevistador. Eu só adiei os planos. Agora ficou para 2013, desde que a coluna permita.

Sergio:E você tem alguma mensagem para aqueles corredores amadores que passam por todas as auguras de uma contusão? para aquele corredor mais sofrido que lê seu blog na esperança de encontrar as curas para seus males?
Sergio:Não...

Sergio:você é um mala mesmo!
Sergio:é você!

Pums! Socs! Toins! Crás! Catapum,pow! 
alguém separe por aqui!

esses dois... são como cão e gato! 


segunda-feira, 7 de maio de 2012

novo olhar sobre as montanhas de minas



Muriaé era, uma vez mais, o local do treino.

O dia nasceu bonito demais, ainda que depois algumas nuvens tenham feito o sol ficar meio que escondido, meio que indeciso se dava as caras ou não.

Nada, entretanto, atrapalharia aquele treino. A ideia era 12km, voltando exatamente quando o GPS apitasse a metade deles.

Nessa hora, pouca gente ainda na rua. Atravesso uma parte da cidade. Alguns carros, e algumas padarias abertas. Lembro-me do treino na chuva do início da semana. Parece que, definitivamente, as padarias tornaram-se minhas testemunhas. Gosto delas. Lembram-me o gostinho bom de pão da infância, de comprar o leite em saquinho difícil de carregar. Boas lembranças. Mas sigamos, que este não é um blog sobre passado ou padarias...

Uma feira. Muita gente, contrastando com o restante da cidade quase deserto. Acordaram cedo, mais do que eu. Sinto uma pontadinha de inveja dessa gente. Não havia levado líquido, fico tentado a parar e comprar uma água de coco. Desisto e sigo adiante.

A primeira das grandes subidas, para pegar a estrada. A essa altura ainda estou descansado e a enfrento bem. Cruzo por um urubu fazendo sua refeição diante de uma carcaça. Acho belo, ainda que possam causar repugnância a alguns. Como já tive oportunidade de descobrir, a beleza está nos olhos de quem vê.

Os sobes e desces se sucedem. Nunca paro. Não posso parar. Cruzo por caminhantes, sozinhos ou com seus cachorros. Alguns poucos corredores. Procuro cumprimentá-los. Um responde, outro não. Faz parte. Quem sabe que belos pensamentos carrega naquela corridinha de domingo? A corrida é, em geral, um esporte solitário que permite momentos de contemplação com nós mesmos.

Uma descida, me deparo com um cenário maravilhoso. Montanhas, uma estrada vazia, árvores e ele, o Sol, reinando majestoso. Pena não ter uma máquina. Se bem que ela não permitira registrar com perfeição o que vejo agora. Precisaria ter a corrida junto e não, uma foto definitivamente não carrega uma corrida junto.

Sigo. O circuito é difícil e o ar às vezes falta. O sol, como que querendo colaborar um pouco, se esconde justamente na hora da maior subida de volta. Agradeço aos céus.

Passo novamente na feira. Penso novamente em parar na água de coco, mas agora há uma fila e ficar esperando não é uma opção. Entendo que esse treino é para ser "à seca".

Volto para casa. É maravilhoso voltar. Não importa quão longe se vá, quão bonito seja a estrada, a volta para casa será sempre um momento mágico.

A corrida foi essa aqui: http://connect.garmin.com/dashboard?cid=22839898

terça-feira, 1 de maio de 2012

é o que se tem para hoje


diazinho de chuva bom pra ficar dormindo debaixo de um edredon
(menos para quem gosta de correr)
a ideia é só de uma treinozinho na esteira
sair correndo de casa, que é para ir esquentando e molhar menos
chegar perto da academia
entrar ali não, que falta poesia
seguir o rumo, decidindo onde ir em cada esquina
gps não acha sinal, que a chuva é boa
(pra quê gps?)
pouca gente na rua, afinal é 1º de maio
perto de casa, os mesmos lugares mas com um novo olhar
a corrida segue gostosa, gps virou cronômetro
praça da bandeira, vou dobrar a direita
hospital da aeronáutica, saudade de meu tio Waldir
a chuva apertou um pouco
vou seguir até a Saens Pena
pouco mais que padarias abertas
cada uma é um oasis de vida no deserto de concreto
hoje mais deserto
vontade de correr até não aguentar mais, pena que não se pode
40 minutos é o que se tem para hoje
a alma vai sendo lavada
renascimento
seguindo feliz
pé na poça, agora molhou
ainda bem que já se está chegando em casa
Rua Dulce, voltar 30 anos
local das peladas depois da escola
errar o caminho, que já faz tempo
moraes e silva
pena que está acabando
vontade de falar, gritar o quanto está bom
mas seguir falando sozinho
outros seguem embaixo de seus edredons
fazer votos para que possam sair deles um dia
seguir
chuva apertando de vez
Visconde de Cairu
boas e más lembranças
mais boas que más
amizades e indiferença
Mariz e Barros
volta pra casa
molhado
feliz demais

definitivamente não há nada que uma corridinha na chuva não cure